América Futebol Clube

América Futebol Clube - São José do Rio Preto

 
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"Pinturas" maravilhosas perpetuadas por artistas vestindo o mais rubro dos mantos sagrados  
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Que golaço - parte 1
sábado, 25 de janeiro de 2014
 
 

Algumas "obras-de-arte" que vi no decorrer de todos esses anos.  "Pinturas" maravilhosas perpetuadas por artistas vestindo o mais rubro dos mantos sagrados da história do futebol paulista e brasileiro.  

 

Golaço 1:

Jogo: América x São Bento

Competição: Campeonato Paulista da 1ª divisão

Data: 19 de março de 1986

Local: Estádio Mário Alves Mendonça

Autor: Paulo César Catanoce

 

A história: América e o velho "Bentão" começaram o Paulistão de 86 de maneira capenga.  Bem mais o América do que o São Bento, visto que o Azulão já havia vencido no certame, coisa que o América, com a disputa chegando à sétima rodada, ainda não havia conseguido.  Mas alguma coisa estava diferente naquela noite de março. Talvez fosse por ser, aquele, o Dia de São José, padroeiro da minha cidade natal. Talvez fosse o estádio lotado por conta do feriado municipal, mesmo com o América nas últimas posições. Difícil descrever. Só sei que, por uma dessas razões inexplicáveis, quando entrei no Mário Alves Mendonça, junto do meu progenitor, tinha certeza de que seria aquela a noite da primeira vitória do Mecão.  

 

A coisa começou a ficar complicada quando vimos que o time entrou com meias brancas, diferentemente das meias tradicionais na cor vermelha (nosso eterno "uniforme número 1").  "Que exagero de gente supersticiosa", o nobre amigo poderá dizer. E é exatamente isso. Mas esse era um ingrediente importante e que fazia parte, digamos, do nosso "ritual de estádio" (usar roupas que "davam sorte", sentar no mesmo lugar de sempre, torcer para o time jogar com o uniforme tradicional...). Invariavelmente funcionava. É como diz o velho dito popular: "Yo no creo en brujas pero que las hay, las hay".

 

Com o jogo em andamento, o América trucidou o São Bento. Trucidou!!!  Mas não fez um gol sequer no primeiro tempo. "São as malditas meias! Eu falei!  Que desgraça, não é possível!", esbravejava o sr. Edilço, meu pai, passando a mão pelo cabelo, procurando talvez algum argumento mais concreto para justificar tamanho sofrimento.  

 

 

 Estádio lotado.  Time no ataque.  E as malditas meias brancas no jogo contra o São Bento (fonte: Diário da Região).

 

 

Só que havia algo especial para aquela noite. E esse algo ocorreu bem no começo do segundo tempo. Exatamente aos dois minutos. Nosso cabeça-de-área e "prata-da-casa" Paulo César Catanoce recebeu um passe lateral do meia-esquerda Toninho. Catanoce estava perto do meio-campo, caindo para a lateral direita. Dois metros o distanciavam do centro do campo. Ele estava desmarcado, pois o São Bento fazia uma verdadeira muralha na retranca com todos os jogadores praticamente para trás da intermediária. Graças a isso, Catanoce deu um toque na bola à sua frente para decidir o que fazer: alçar a bola na área ou avançar com ela dominada. Para surpresa dos mais de três mil torcedores, ele decidiu chutar. Ele era dono de um chute forte. Era, inclusive, o batedor oficial de faltas do América, apesar da pouca idade. Mas, de onde ele estava, parecia uma pretensão muito grande tentar arriscar o tiro ao gol. Mas ele arriscou. E o que se seguiu foi um tiro que voou à meia-altura, subiu, subiu e foi quase na "gaveta" do goleiro Abelha. Atônita, a torcida viu aquela joia rara mas não comemorou de imediato. Motivo: a bola furou a rede!!! A danada bateu nas placas de propaganda atrás do gol – que dividiam o estádio Mário Alves Mendonça das piscinas da sede social do clube – e voltou para dentro do campo! Notando-se, enfim, que fora gol, o estádio veio abaixo. Um a zero!!! O time inteiro foi comemorar com Catanoce. Foi como se aquele gol tivesse tirado, sozinho, um caminhão de tijolos dos ombros do time do América. A equipe deslanchou. Fez mais dois gols (Gilson e Mazola) e a primeira vitória daquele ano, enfim, chegou. 

 

 

 

O autógrafo de 1986 do autor do golaço! (fonte: arquivo pessoal ESF)

 

 

Golaço 2:

Jogo: São Caetano x América

Competição: Campeonato Paulista da 2ª divisão

Data: 04 de julho de 1999

Local: Estádio Anacleto Campanella

Autor: Roberto Carlos

 

O campeonato da série A2 do Paulistão daquele ano, também conhecido como Segunda Divisão, estava chegando aos "finalmentes". Depois da fase inicial, disputada por dezesseis clubes, formaram-se dois grupos com os quatro melhores times do certame. O América caíra em um grupo difícil. Nele estava o São Caetano, time de ascensão fulminante no futebol paulista e que tinha uma base de jogadores que acompanhou o clube por anos. Vários dele, inclusive, estavam no elenco vice-campeão brasileiro contra o Vasco no ano 2000.

 

Depois de atropelar o Botafogo em Ribeirão Preto (3x1), o América viu que aquela fase não seria o mamão com açúcar que o primeiro jogo faria supor, pois sofreu para empatar em casa contra o, também, fortíssimo Santo André (3x3). Para encerrar o primeiro turno daquele quadrangular, seria hora de encarar o poderoso São Caetano.

 

Era um domingo frio em São Caetano. A torcida abarrotou o Anacleto Campanella. O incentivo das arquibancadas era tão incendiário que eu mal conseguia ouvir a narração dos locutores de São José do Rio Preto. E senti um arrepio na espinha quando, aos 4 minutos do primeiro tempo, o São Caetano abriu o marcador com um golaço olímpico do jogador Táxi. Sem remorsos: apesar da campanha irrepreensível do América naquele ano – o time não havia perdido uma partida sequer –, logo após aquele gol eu achava que, no horizonte, desenhava-se uma surra homérica. Mas, apesar de ser algo raro, meu time também conseguia me surpreender de maneira maravilhosa. E a surpresa veio em uma forma que eu, nem nos meus momentos mais otimistas, conseguiria imaginar.  Oito minutos depois do golaço do Táxi, nosso matador oficial daquele campeonato, o centro avante Roberto Carlos, com as honras da casa, fez questão de empatar, também na forma de um inesquecível golaço: o lateral esquerdo Guilherme foi até a linha de fundo e levantou na área. Na altura da marca do pênalti, Roberto Carlos jogou o corpo pra trás e acertou uma bicicleta absolutamente fenomenal. Um monumento de gol. O jogo seguiu forte e à altura daqueles doze primeiros minutos. O América virou para 2x1. O São Caetano voltou a virar o jogo, fazendo 3x2. Por fim, aos 35 minutos do segundo tempo, o América deu números finais à partida, finalizando o placar em fantásticos 3x3.

 

Quem é americano e acompanhou esse campeonato, certamente jamais se esquecerá daquele time (que levou o América de volta à primeira divisão). Com certeza, houve muitos gols importantes naquele ano de 1999, mas, de todos, esse foi o mais bonito. 

 

 

 

                       O artista, a bola e a obra-de-arte finalizada (fonte: arquivo pessoal ESF, imagens Rede Vida).

 

 

Golaço 3:

Jogo: Santos x América

Competição: Campeonato Paulista

Data: 20 de março de 2005

Local: Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro)

Autor: Guim

 

Domingão quente de março. Jogo do América contra o Santos lá na Vila Belmiro. O time do América estava "redondinho". Finazzi, Danilinho, Chicão... Meu Deus, que timaço. O Santos estava em uma fase de transição complicada, com vários dos grandes jogadores campeões brasileiros em 2004 sendo negociados para o exterior. Mas o time ainda era forte. O jogo daquele domingo seria transmitido por um canal de TV a cabo. Eu não assinava o dito cujo e, por isso, fui me aconchegar na choperia Polaco, na aconchegante cidade de Botucatu (onde morava naquela época), para torcer pelo meu Mecão. Minha esposa estava comigo. Ela era como um "freio natural" que me auxiliava a não gritar "gol" em um estabelecimento abarrotado de santistas, o que, convenhamos, seria um grande problema para mim.

 

As primeiras tulipas de chope foram sorvidas de maneira ágil já para me tranquilizar. Funcionou melhor do que eu esperava. Com 8 minutos de jogo, vejo Robinho fazendo 1x0 para o Santos. Beleza. Se perdermos, perderemos para o time campeão brasileiro. Basílio fez 2x0. "Desce outro chope, Cirineu". Cirineu, garçom gente finíssima do Polaco, e já me tratando como cliente fiel, dada a quantidade de vezes que visitei seu estabelecimento, se aproxima com o copo gelado. "Tá nervoso, patrão?" Eu: "Tô nada. Tô tranquilo!", respondi, de maneira pouco convincente. Como de costume, ele me tranquiliza: "Se o América fizer gol, pode comemorar que eu te garanto!" Quanta gentileza, mesmo ele sendo (bem) menor do que eu. Danilinho desconta no final do primeiro tempo. Finazzi empata no início do segundo. Eu comemoro dando "socos no ar" debaixo da mesa. Minha esposa sorri. Alegria de pobre dura pouco. Três minutos depois, o mesmo Basílio faz 3x2, em brilhante jogada de Robinho.  A cabeça chega a doer de tanta raiva. Custava segurar mais dez minutos, pelo menos? Custava me dar dez minutos a mais de prazer?

 

Mas o melhor, como sempre, veio no final: Danilinho estava cercado na linha de fundo com a bola nos pés. Inteligentemente, ele "descobre" o jogador Du no bico da grande área. Toca rápido. Du, de primeira, faz um passe rasteiro para o Guim, que estava com o zagueiro uruguaio Bóvio marcando-o em cima. Guim coloca sua perna direita à frente, deixando a bola bater no seu tornozelo esquerdo e o resultado é um drible desconcertante e um zagueiro com a coluna irreversivelmente retorcida... Guim levanta a cabeça e toca de maneira milimétrica no pé da trave direita do goleiro Mauro. Jesus Cristo, que golaço!!! 3x3. Um jogaço. Qualquer um dos times poderia ter vencido. E eu lamento até hoje o gol perdido pelo nosso artilheiro Finazzi no final da partida. Mas não tem problema. A missão foi mais do que cumprida. Teve torcida da casa xingando o time do Santos ao final da partida, com direito a demissão da comissão técnica e tudo o mais. Enfim, quem disse que torcer para time pequeno não é demais? É! Principalmente quando esse time tem um baita jogador como o Guim!!! "Cirineu, traz a saideira e fecha a conta! Mecãão, ê ô, Mecãão, ê ô!!"

 

 

 

               Guim dando o drible genial e fazendo um golaço (fonte: arquivo pessoal ESF).

 

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